TRADUZIR-SE
Ferreira Gullar
Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo
Uma parte de mim
é multidão;
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.
delira.
Uma parte de mim
almoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.
Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.
Traduzir uma parte
na outra parte
- que é uma questão
de vida ou morte -
AS PORTAS DE OURO QUE SE VÃO ABRIR
Gilberto Mendonça Teles
A minha vida foi sempre assim
me fechavam uma porta
eu abria outra
me fechavam uma porta
eu abria outra
me fechavam uma porta
eu abria outra
A minha vida foi sempre assim
só abrindo as portas que não têm fim.
RAZÕES DE SER
Paulo Leminski
Escrevo por que preciso.
Preciso porque estou tonto.
Ninguém tem nada com isso.
Escrevo porque amanhece,
e as estrelas lá no céu
lembram letras no papel,
quando o poema me anoitece.
A aranha tece teias.
O peixe beija e morde o que vê.
Eu escrevo apenas.
Tem que ter por quê?
Escrevo. E pronto.
Paulo Leminski
BILHETE
Mário Quintana
Se tua me amas, ama-me
baixinho
Não grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mário Quintana
AURORA
Horácio Dídimo
Enquanto eu procurava
A palavra aurora
O sol entrava
E soletrava
Um tempo outrora
Então eu pensava
Depois sofria
Fazia a ponta do lapis
E escrevia
Horácio Dídimo
TE AMAREI PRA SEMPRE
Gosto tanto de você,
que não sei como
explicar.
Te amo de noite
e de dia
e nunca mais
vou parar de te amar.
Sem vocẽ não sou nada,
sem você não consigo viver,
pois aprendi a te amar
e não consigo te esquecer.
João Filho - 3º F (NOITE)
ESTROFES E SONETOS
A palavra
atravessa o sentido da criação
Memórias
repetidas e falsa emoção
As palavras
doem mais que pancadas
Resumindo, eu
quero outra confissão.
Você pensa que
o mundo "tá" acabado
Ou que não
existem esperanças no impossível
Crianças choram
e sorriem o tempo todo, num
Êxtase de dor e
prazer em continuar vivo.
É simplesmente
indescritível!
Hoje me
coloquei no lugar de um mendigo
Ou que não
existem esperanças no impossível
Ri da cara do
soneto, ri da cara do prefeito
Ri da cara do
predicado e ri da cara do sujeito
Ígneo como o
amor da minha mãe
Volátil como o
amor do meu pai
Eu quero ser
feliz é o que interessa
Lendo os meus
livros!
Mãe eu te amo!
Amor ígneo!
Ou que não
existem esperanças no impossível
Nunca, jamais
duvide de mim.
Ao Raul Seixas
que esconde um rifle em sua música
Livros que te
amo! Eu escondo uma bazulka
Ignorando o que
existe de ruim no universo
Zombando estou
do meu próprio verso
Ao sofrer por
você!
JEFFERSON F. RODRIGUES - 2º B (MANHÃ)
O QUE EU QUERO
Reine Limaverde
Quero. Quero
um bolero e um dizer:
te quero.
Quero paetês e serpentinas
como se fosse um carnaval.
Não faria mal.
Quero beijos e um luar.
Ah! Beijar, beijar.
O QUE EU QUERO
Reine Limaverde
Quero. Quero
um bolero e um dizer:
te quero.
Quero paetês e serpentinas
como se fosse um carnaval.
Não faria mal.
Quero beijos e um luar.
Ah! Beijar, beijar.
É A VIDA...
Tão imensa quanto o mar.
Tão clara quanto o sol.
Tão verde quanto a mata.
Tão meiga quanto o sorriso de uma criança.
Tão surpreendente quanto a paixão.
Tão serena quanto a luz do luar.
Tão abstrata quanto a felicidade.
Tão inebriante quanto a noite.
Tão mágica quanto a dança.
Tão triste quanto a saudade.
Tão doce quanto o beijo.
Tão forte quanto a fé.
Tão maravilhosa quanto o dia.
Maior que tudo isso,
é a vida!
Renan Ribeiro de Morais - 3º D
SALA
Francisco Carvalho
Ouço passos vindos
do alpendre
para dentro da sala.
Será o vento que fala
coisas da cabala?
Ou será o morto
de regresso à senzala?
O vento se cala
e um rumor de sedas
resvala
no ladrilho da sala.
No alto da cumeeira
a coruja gargalha.
De novo o mistério
se instala
em cada movimento.
TOTAL AUSÊNCIA
Luciano Maia
O grito aprisionado no cristal
onde resvala o gesto da memória
ecoa longe e perto... É um sinal
de um fim de enredo, sepultada história
de amor sem luz, luz longe do ideal
labareda hesitante e provisória
da desesperação, dor abissal
calado grito da paixão inglória.
Não se conteve a taça de abster-se
da hora em que os amantes finalmente
se afastaram, deixando para trás
o silêncio dos passos a perder-se
no silêncio dos lábios, a presente
ausência dos que vão ao nunca-mais.
O SEU AMOR
O seu amor é a fonte de toda a minha inspiração.
O seu amor é a melodia de uma linda canção, a fonte dos meus desejos, os sonhos e os beijos.
O seu amor é o meu alimento, meu remédio, meu sono, meu pensar, meu falar.
O seu amor é a minha vida, sem ele nada tem valor.
Dentro de mim é assim esse grande amor, brilhará para sempre como a estrela mais preciosa que existe no céu, como os pássaros que cantam, enquanto esse amor encanta.
O seu amor é o sonho mais lindo que a vida pode me proporcionar e que hoje não desejo acordar desse sonho.
Pois tenho medo de acordar e o seu sonho não encontrar, então não conseguirei suportar.
Dos meus sonhos e da minha vida, eu não vou aceitar você se retirar.
TAMYRIS MIRIAN COSTA DA SILVA - 3º ano D - Tarde
PERDÃO PELA MANHÃ
Pela manhã desperto logo o seu coração,
carente lavando o rosto com água e sabão.
Sinto que disse não.
Você pede perdão, por algo que nem sei se fiz não.
Maria Karolina Freitas da Silva - 3º G - Noite
O TEMPO EM ALTO MAR
Meu orgulho me faz passar,
por sentimentos que sinto,
que irei naufragar,
por um mar que não tem como nadar.
Vivo de incertezas por caminhos fechados.
Lanço um olhar para ver ao lado,
se alguém consegue me enxergar.
Naquele alto mar podia sentir
que era ali o meu lugar.
De se ficar e pensar, sem esperar...
Maria Karolina Freitas da Silva
3º G - Noite
Homenageando o poeta cearense Artur Eduardo Benevides que faleceu aos 91 anos no dia 20 de setembro de 2014 postarei duas poesias que ele fez. Esse poeta recebeu o título de "príncipe dos poetas", era dono de uma vasta obra e é uma das vozes mais alta da poesia contemporânea na literatura brasileira.
DO AMOR FINAL
Nos dejúrios do amor, quando dizemos
Tudo o que salva a humana condição,
A vida fica em grã levitação,
Mas, quase sempre, tontos, nos perdemos.
Quem não teve do amor a sagração?
Em nosso maisquerer, todos sofremos.
Quantas mágoas e penas recebemos
Ao sentirmos a força da paixão!
E agora vens, ó última esperança!
No fim da tarde, bailo a contradança
Das pavanas gentis de teu olhar.
No pas de deux que une as nossas almas,
Chegas plena de Deus e então me acalmas
E me mostras as ilhas de teu Mar.
NUM SONHO
Em minhas mãos tomo teu rosto agora
E não sei se esse gesto vai ferir-me.
Não sei se fico aqui, pensando em ir-me,
Ou se a teus pés sucumba sem demora.
Tenho medo de amar! Vou demitir-me
Desse ofício de sonhos. Vou-me embora.
Mas, o Amor me chama e nele ancora
O meu jeito de ser e de exprimir-me.
Tomo teu rosto, então, por um minuto.
Um grande amor, do eterno claro fruto,
Envolve-me de todo e com loucura.
Entregue fico então ao meu desejo
E ficas em meus braços e te beijo
E morres de prazer e de ventura.
Você sabia que a poesia nacional tem um dia no calendário dedicado a ela? Pois bem, não por acaso, no dia 14 de março comemoramos o Dia Nacional da Poesia.
Criada para difundir a poesia e a linguagem literária, a data foi escolhida para homenagear um de nossos maiores poetas, Antônio Frederico de Castro Alves, nascido na cidade de Curralinho (hoje Castro Alves), em 14 de março de 1847. Castro Alves foi considerado um dos mais brilhantes poetas românticos, responsável por uma nova concepção de amor na Literatura, além de um notável entusiasmo por grandes causas sociais, como a abolição da escravatura. Depois dele, muitos outros vieram, mas como grande poeta que foi, teve seu nome perpetuado em nossa história, sendo, então, digno de reverências e homenagens.
Nossa Literatura brasileira é profícua, sendo representada magistralmente por grandes poetas que fizeram do ofício da escrita sua profissão de fé. A poesia é uma das expressões artísticas mais populares e, permeada por seu lirismo característico, arrebata leitores e penetra em diferentes contextos, pois até mesmo diante da mais dura realidade pode nascer um poema (e como eles nos comovem!). (Fonte: www.brasilescola.com)
Carlos Drummond de Andrade
A VIAGEM
Horácio Dídimo
Viajo pelo tempo e pelo espaço
Profundamente, mas sem rumo certo
E vou gravando tudo num retrato
Feito de vozes e pequenos gestos
Talvez de adeuses e pequenos restos
De tudo o que se foi, mas não passou
Porque reviverá na grande festa
Dos que se libertarem pelo amor
Há uma estrela azul que me orienta
Nesta viagem que atravessa o espaço
E que rompe as barreiras deste tempo:
Estrela que ilumina e que apascenta
Que mostra o dom da fé em seu abraço
E o reino da poesia face a face.
Soneto A Viagem, publicado originalmente em A Nave de Prata (1991).